quinta-feira, abril 24, 2014

Humilhação não é...

A crença do "povo português" (uso povo português muito largamente) é que a humilhação é algo mutável e que se altera mediante o sensacionalismo que se dá a algo. Dai, neste momento, estamos perante as seguintes situações (entre outras):

Humilhação não é ganhar o ordenado mínimo com 4 bocas para alimentar em casa. Isso é ter sorte por ainda ter um emprego.
Humilhação não é ter de sair do país para arranjar emprego e fazer uma vida. Isso é ser pro-ativo ir à procura de novas oportunidades.
Humilhação não é perde a casa e ser sem abrigo. Isso é ter azar na vida.
Humilhação não ter de abandonar um curso por não ter dinheiro ou comida. Isso é dinheiro mal-empregue pelo aluno que passa a vida na noite.
Humilhação não é ser despedido sem justa causa e andar à mercê da vontade do patrão. Isso é termos de nos sujeitar pois não temos outra alternativa.
Humilhação não são os programas de televisão que colocam a falta de cultura e estupidez num pedestal. Isso é entretenimento televisivo.
Humilhação é desportistas de alto nível terem de sacrificar mundos e fundos para poderem competir pela nação ou desistirem de tal. Isso é porque só o futebol é desporto.
Humilhação não é violência doméstica. Isso é entre o marido e a mulher.
Humilhação não é trabalhar a vida inteira e receber uma reforma que mal chega para as contas do mês. Isso é culpa do estado e da pessoa que não trabalhou o suficiente.
Humilhação não é utilizar a tristeza alheia para ter mais espectadores. Isso é jornalismo do mais alto nível.
Humilhação não é ser descriminado para um possível emprego devido ao género, idade ou aparência. Isso é culpa da própria pessoa que já devia saber o que a casa gasta.
Humilhação não é sacrificar os próprios sonhos para poder sobreviver. Isso é a vida.
Humilhação não é nada destas e de muitas outras coisas.

No entanto, humilhação é e sempre será ir à praxe e ser praxado de livre vontade. A humilhação é e sempre será acatar ordens de livre vontade na praxe.

Lamento vivamente o que aconteceu antes, agora e que irá acontecer no futuro em que a praxe esteja de alguma maneira envolvida. No entanto devo dizer, que a praxe é uma boa maneira de atribuir toda e qualquer culpa sobre qualquer acontecimento relacionado com estudantes universitários. A praxe é o melhor bode expiatório que existe para que as pessoas possam apontar o dedo nestas situações.

Gostava de acreditar que as pessoas têm três dedos de inteligência antes de atirarem todas as culpas para a praxe, mas infelizmente o que vejo mais é o contrário. Neste país, a única coisa que interessa é o futebol, o vinho e a igreja. E claro, apontar o dedo a todos os problemas menos aos que provocamos.

3 comentários:

*Nightwish* disse...

Às vezes tenho vontade de desistir de fazer entender às pessoas estas coisas... Há o cego, e depois há aquele que não quer ver. Estou demasiado triste para contestar o que quer que seja =(
****

O meu reflexo disse...

Não me parece que o que aconteceu ontem esteja de todo relacionado com a praxe,acho que foi um acidente, assim como foi com eles podia ter sido com qualquer um de nós. Mas acho que é mais fácil dizer que a culpa é da praxe.

KB disse...

A culpa é sempre e eternamente da praxe. Partiu o copo a lavar a loiça? Praxe, foi do choque de actos praticados voluntariamente. Tropeçou na rua? Praxe, é reacção muscular de ter estado numa praxe. Perdeu o autocarro? Praxe, é do cansaço que a praxe causou. Borbulha? Praxe, é do stress da praxe claro duh!

Há praxe "boa" e há praxe "má". Há pão "bom" e há pão "mau". Não se pode negar que existem praxes onde as coisas correm mal, onde existem excessos. Mas são a grande minoria, por mais que se chore e berra por aí (TV adora isso).

A culpa é da praxe? A culpa é da praxe! É mais fácil assim, para quem não quer ver nem pensar, para quem a excitação da drama gerada é mais adequada que a aborrecida realidade. A realidade de que existem pessoas estúpidas... ou simplesmente estavam no local errado na hora errada, um mero acidente. A culpa é da praxe.